Entre a fenda sequencial de edifícios perfilados ao longo da Avenida Paulista, São Paulo, surge um espaço praticamente à mercê de mais um complexo. Não uma edificação qualquer, mas aquela designada especialmente para abrigar o novo IMS – Instituto Moreira Salles.
Longe de concorrer com os arranha-céus da região, o partido surpreende por sua concepção formal, que estabelece a todo o momento uma relação direta com quem circula pelo local. O programa bem-distribuído, privilegia o contato com a arte, música e literatura – cultura em geral.
“Imaginamos um museu acessível, ancorado no presente, que proporcione um envolvimento franco com a cidade e, ao mesmo tempo, ofereça um ambiente interno tranquilo e acolhedor. Um museu capaz de equilibrar a vibração das calçadas com a natureza e com a escala dos espaços museológicos, que exigem uma qualidade de luz e uma percepção do tempo muito particular. Enfim, uma obra de caráter marcante, que permite uma experiência única e pessoal para quem a visita”, resumem os arquitetos da Andrade Morettin.
Limitado espacialmente, o lote é marcado por poucas aberturas e conexões com o entorno. Para criar uma relação nova e aberta entre o museu, a cidade e seus habitantes, os arquitetos suspenderam o térreo do edifício – principal elemento articulador – a 15 m acima do nível da avenida. Nesse caso, o acesso ficou definido por meio de escadas rolantes e elevadores.
“Durante o percurso, os sons e a agitação vindos da rua se atenuam, a intensidade e a natureza da luz se alteram, até chegar ao térreo elevado, de frente para a cidade, que se abre em uma perspectiva totalmente renovada. Liberado do confronto demasiadamente próximo e direto com a rua, foi possível criar um espaço vibrante e cheio de energia, mas ajustado à intensidade e ao ambiente desejados”, contam os profissionais.
A distribuição dos espaços do museu está pautada na intenção de reforçar os vínculos e dar continuidade entre os ambientes abertos ao público, conferindo privacidade e controle às áreas administrativas e de serviço.
A partir disso, o programa acontece com o térreo configurado como uma espécie de praça, que instiga o convívio e orienta o fluxo, com café / restaurante e loja. Acima, estão os generosos espaços expositivos, que exercem o papel de protagonistas dentro do novo complexo.
Os arquitetos explicam que a nova Midiateca do instituto é composta por auditório, salas de aula, espaço multimídia e biblioteca, formando um corpo único e integrado.
“Nesse caso, parte da biblioteca pode funcionar como espaço de convívio para quem frequenta as salas de aula. As salas – quando integradas – transformam-se em um pequeno auditório suspenso que se relaciona, simultaneamente, com a própria biblioteca e com o foyer”.
A área administrativa fica separada, no topo do edifício, preservando sua autonomia. De qualquer maneira, há sempre um canal de circulação que conecta os espaços a outros níveis do edifício, desde o estacionamento até as exposições.
O edifício é marcado por determinados materiais que contribuem para que seja visto como um volume bem-definido e íntegro, totalmente à vontade em meio aos demais prédios que circundam a avenida.
Utiliza-se o vidro translúcido autoportante como segunda pele da fachada, que ajuda a garantir iluminação natural para o interior. Outros materiais reforçam o desejo de construir relações significativas com a cidade.
“No térreo elevado, recuperamos o piso de mosaico português que por muito tempo foi usado nas calçadas da Avenida Paulista. Por outro lado, usamos o material de que são feitas as calçadas hoje para cobrir todo o piso do museu no nível da rua, ganhando um espaço contínuo”, contam.
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