Exemplo de construção sustentável, o projeto do Centro Max Feffer Cultura e Sustentabilidade foi reconhecido mundialmente desde sua construção, em 2008, pelo escritório Amima Arquitetura. A construção – localizada no Município de Pardinho, uma área rural próxima a Botucatu, São Paulo – é a primeira da América Latina a receber a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), além da menção honrosa na 8º Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, realizada em 2009.
Desde o início do projeto, houve o compromisso em evidenciar, na própria construção, os princípios sustentáveis que seriam ensinados sob o harmonioso teto entrelaçado de bambus. “O Centro abriga as várias atividades culturais do Projeto Pardinho , do Instituto Jatobás, entre elas programas que disseminam e incentivam o desenvolvimento sustentável ambiental, econômico e social da região”, conta a arquiteta Leiko Hama Motomura. Estreitamente ligado à responsabilidade ambiental, o Centro Max Feffer é uma edificação verde e ecológica, capaz de oferecer conforto ambiental a partir de soluções passivas.
O bambu é pouco utilizado na arquitetura estrutural, mas conseguimos reconhecer suas qualidades específicas e trabalhá-las com criatividade Leiko MotomuraDe todo o terreno com 7.130 metros quadrados, apenas 15% foram utilizados na construção. Além da baixa ocupação, a permeabilidade do solo foi mantida pelo uso de pisos externos 100% drenantes. A captura de águas pluviais no terreno foi aumentada com a criação de drenos no paisagismo. A área construída de 1.651 metros quadrados promove o convívio e a interação das pessoas, por meio de atividades artísticas e de inclusão digital, espetáculos, entre outros. “É um lugar de lazer, aprendizado e convivência para crianças frequentadoras da praça, vizinhos e moradores próximos, baseado nas melhores práticas ambientais”, complementa a arquiteta.
Para chegar ao centro, há três acessos: o principal, pela Estrada Boiadeira, feito por uma escadaria generosa, e os outros dois pela Rua Augusto Cesar. Um deles está no nível da rua, com ligação direta ao salão do térreo; e o outro é acessado por meio de uma rampa ligada diretamente ao piso superior, na qual acontecem os shows e eventos.
A pequena infraestrutura do prédio existente no local foi reaproveitada. O térreo abriga salas voltadas para a face norte, que estão protegidas da incidência solar por um generoso beiral. Na construção há lugar para um bicicletário, que estimula o uso do transporte não poluente.
Entre os materiais sustentáveis utilizados o bambu se destaca. Leve, resistente, durável e econômico, ele toma toda a estrutura de cobertura da construção. Como a intenção da construção foi incentivar o uso deste material, que é de fácil cultivo e é encontrado em diversas regiões do Brasil, eles foram trazidos do Paraguai, pois os do Instituto Jatobás, da Fazenda em Pardinho, não estavam ainda prontos para a colheita, na ocasião.
Leiko Motomura explica que o bambu foi valorizado na obra. “Atualmente ele é pouco utilizado na arquitetura estrutural, mas conseguimos reconhecer suas qualidades específicas e trabalhá-las com criatividade”.
Outro material usado na obra foi o eucalipto, madeira de cultivo. Ambas – bambu e eucalipto – são fibras vegetais rapidamente renováveis. A sua energia contida é muito baixa quando utilizadas como no Centro. O cuidado na escolha de materiais de baixo impacto levou à opção de telhas, cuja composição traz 42% de papelão reciclado.
Para ajudar ainda mais no conforto térmico, utilizamos a cor branca na cobertura. Isso favorece o aumento da reflexão solar Leiko MotomuraTambém foram aplicados seladores, colas, tintas e vernizes à base de água. Aqui, eles apresentam baixo nível de emissão de compostos orgânicos voláteis, o que reduz a probabilidade de problemas respiratórios entre os usuários. Além de tudo isso, a reutilização de materiais é uma prática observada na construção. A madeira dos caixilhos e os tijolos são de demolição; o gradil tem origem nos resíduos industriais, os corrimões são de ônibus desmanchados e os bancos e bebedouros são provenientes de materiais descartados.
Para prevenir a poluição causada pela obra, parte dos resíduos foi incorporado à própria construção ou encaminhado à reciclagem. “A medida reduziu a quantidade de lixo enviado para aterros sanitários”, declara Leiko Motomura. Também foram definidos os locais de coleta seletiva de resíduos, com o objetivo de incentivar a reciclagem de materiais.
No projeto paisagístico, os arquitetos utilizaram em 63% da área do terreno plantas nativas já adaptadas ao meio ambiente local. A estratégia é uma forma eficiente de minimizar o consumo de água potável. Com o uso abundante de vegetação, também acontece a redução do efeito 'ilha de calor'. “Para ajudar ainda mais no conforto térmico, empregamos a cor branca na cobertura. Isso favorece o aumento da reflexão solar”, declara Leiko. Já o controle da qualidade de CO² no ar é feito por meio de aparelhos que medem a quantidade do gás nos ambientes.
O compromisso com a sustentabilidade assumido desde a obra trouxe bons resultados. No Centro Max Feffer, há uma redução de 25,6% no consumo de energia, comparado a construções convencionais. A economia começa no sistema de ventilação natural que proporciona conforto térmico, mesmo sem o uso de ar condicionado. A medida permite que 79,52% da iluminação seja feita por luz natural.
O controle térmico também é feito pela parede Trombe – localizada na face norte –, uma tecnologia semelhante a um radiador. Ela armazena o calor, transferindo-o para o interior do ambiente, que funciona gratuitamente para o aquecimento dos ambientes e ainda oferece baixa manutenção. As janelas operáveis possibilitam o ajuste necessário da ventilação natural, que é feito pelos usuários.
A tecnologia LED, de alta eficiência, baixo consumo energético e longa vida, e as células fotovoltaicas para o seu acionamento foram colocadas como modelo na iluminação externa da entrada para futuras utilizações. Some a tudo isso sensor de presença nos banheiros, células fotoelétricas na iluminação externa e iluminação zenital.
Para economizar água, a arquiteta implementou um sistema de captação de águas de chuva que segue para o reservatório com a finalidade de ser utilizada no banheiro, para descargas, e em um eventual incêndio. “As águas cinzas passam por um processo de filtragem física em brita e areia e um biofiltro composto por plantas – zona de raízes”, explica Leiko Motomura.
A alimentação do lençol freático acontece por meio do uso de pisos drenantes nas áreas externas, drenos para aumentar o índice de absorção superficial do terreno, e o plantio de 37 árvores de porte médio.
O consumo é administrado de forma inteligente. As válvulas de descarga com acionamento duplo e as torneiras com fechamento automático diminuem o gasto e evitam o desperdício de água potável.
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