Boa parte de Brasília é marcada pelos traços inconfundíveis de Oscar Niemeyer. Entre os edifícios projetados pelo arquiteto está a Casa da Manchete, inaugurada em 1978, que serviu de sede para a extinta TV Manchete e, posteriormente, para uma escola.
Recentemente veio a proposta de reativação do prédio, que passaria a abrigar novos projetos. Um deles é o Studio Cento e 7 Ene, uma residência projetada pelo escritório Debaixo do Bloco Arquitetura.
O espaço de 68 m² virou a morada de um cliente cosmopolita que mora sozinho, gosta de arte, viaja bastante, mas quando está em casa adora receber amigos.
A casa é organizada em três alas que contornam um pátio central, formando um desenho em “u”. O piso da casa original possuía diferentes níveis: o primeiro para a rua e os outros para as salas de aula. O nível foi igualado, mas com a isso a sala perdeu amplitude visual. “Para resolver esse problema foram criados forros setorizados, mas descolados da telha”, comenta o arquiteto Clay Rodrigues, um dos responsáveis pelo projeto. Assim, o telhado ficou aparente e o pé-direito, alto.
“Os forros setorizados delimitam de forma sutil os ambientes. Eles possuem alturas diferentes, e de forma gradual ficam mais baixo conforme o uso do ambiente”, explica Rodrigues. Na cozinha, permitem 2,70 m; na sala, 2,40 m; no quarto, 2,20 m; e, por fim, o cubo do banheiro com 2,10 m.
Apesar dos tirantes visíveis para segurar esses forros, a sensação é que eles estão flutuando no espaço, em especial de noite quando a telha desaparece e o forro se destaca.
Outro elemento construtivo são os brise-soleil verticais locados nas fachadas frontal e posterior. Eles são uma forma de integrar o interior com o exterior, diminuindo a incidência da luz solar. Além disso, criam janelas esguias que obedecem a um ritmo – inspiração trazida de um prédio residencial da quadra 107 norte de Brasília.
Diferentes elementos estruturais – telhas, treliças, estruturas e instalação – foram pintados de branco. O resultado uniu os elementos e trouxe mais conforto visual.
Apesar de toda a dinâmica da casa estar integrada, somente sala, cozinha e home office estão completamente fundidos. O banheiro e o quarto são isolados de forma parcial – podendo ser total também por dois elementos.
“O primeiro é um pilar de 1,10 metro de comprimento que ajuda na estruturação das treliças do telhado e faz a delimitação física e visual da sala de jantar/cozinha para o quarto”. Além disso, serve de apoio para um bar e suporte para a única TV da casa.
O segundo é um cubo preto de pedra levigada com 2,20 m de altura, solto do teto, que cria privacidade necessária para o ambiente. A escala reduzida e a cor foram definidas propositalmente com o intuito de levar sensação de abrigo e intimidade.
Na decoração, o mobiliário é 100% brasileiro, assim como todas as pedras que revestem piso, bancadas e paredes, junto a objetos pops, revistas de moda e lembranças de viagem. Quadros do artista Christus Nobrega e Aldemir Martins são destaques no espaço e realçam ainda mais graças ao fundo neutro das paredes – uma mistura de cimento e cola desenvolvida durante a obra.
Iluminação cenográfica e pontual compõe o interior do ambiente junto a uma marcenaria em madeira freijó desenhada pelo escritório.
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