Uma enorme macaubeira nascida em um terreno de 270 m² orientou o projeto arquitetônico da Sede do Escritório Lins Arquitetos Associados, em Juazeiro do Norte (Ceará).
A palmeira limitava o tamanho do edifício, pois não queríamos removê-la ou deixá-la aprisionada entre blocos. A solução foi reduzir um pouco a dimensão do pavilhão e deixar a árvore solta em uma praça criada para abrigar conversas e debates sobre arquitetura e urbanismo, o espaço MacAUbaGeorge Lins“A palmeira limitava o tamanho do edifício, pois não queríamos removê-la ou deixá-la aprisionada entre blocos. A solução foi reduzir um pouco a dimensão do pavilhão e deixar a árvore solta em uma praça criada para abrigar conversas e debates sobre arquitetura e urbanismo, o espaço MacAUba”, comenta George Lins, sócio do escritório junto com Cintia Lins – e ambos autores do projeto. Essa praça ganhou bancos e mesas de concreto aparentes e outros assentos soltos em madeira e estrutura metálica.
Já o prédio principal, por sua vez, foi implantado de maneira ‘pavilhonar’, com suas maiores fachadas voltadas para o norte e o sul, favorecendo a proteção solar e a captação da ventilação dominante. “O objetivo era construir a sede do escritório a partir de uma arquitetura adaptada à região em que está inserida, respeitando a cultura do lugar, mas sem abrir mão das características contemporâneas que regem o nosso tempo”, completa Cintia.
A construção do pavilhão se deu a partir de estruturas pré-fabricadas de concreto, espaçadas entre elas para gerar aberturas de ventilação e iluminação.
O fechamento desses pórticos foi feito com esquadrias duplas em telhas metálicas e vidro incolor, possibilitando assim várias possibilidades de uso. As esquadrias metálicas externas, quando abertas, funcionam como “quebra-ventos”, captando a ventilação natural vinda do leste para dentro do edifício. O teto é fechado também com vidro incolor, trazendo muita luz natural para o seu interior.
“A ideia sempre foi fazer um edifício sólido, firme e que trouxesse uma ideia de segurança para quem o visse de fora, mas sem perder a possibilidade de abri-lo para buscar iluminação e ventilação naturais”, fala Cintia.
O grande destaque do projeto fica por conta da cobertura borboleta, solta em cima do pavilhão e sustentada por apenas uma viga metálica treliçada e em pilares de concreto aparente que vencem o vão de 16 metros. “Estrutura metálica, barrotes de madeira e policarbonato leitoso compõem a cobertura”, explica a arquiteta.
Para reforçar a característica regional, o paisagismo é recheado de espécies da caatinga – que também reduzem os custos com a manutenção. Além da grande macaubeirajá existente no terreno, um cactário com espécies de mandacarus, xique-xique e palmas compõem o espaço. Ipês roxos também foram plantados na calçada.
O interior do edifício é composto por um grande vão, que recebe recepção, sala técnica e uma sala de reuniões para atendimento de clientes – sendo essa a única que pode ser fechada por meio de uma esquadria de vidro corrediça, que oferece privacidade sem compartimentar os espaços. A proposta de não separar o grande espaço interno do pavilhão visava, sobretudo, não atrapalhar os fluxos das atividades diárias.
“Uma estante vazada separa a recepção da sala técnica, e mesas de trabalho e prancheta ficam próximas às paredes de vedação, deixando uma circulação central livre. Incluímos, ainda, uma mesa de reuniões com capacidade para oito pessoas no final do edifício”, explica Cintia sobre o layout.
O banheiro e copa são separados e oferecem acesso direto para o espaço exterior, a fim de atender os eventuais eventos do espaço MacAUba.
Os revestimentos de piso e parede são materiais locais como tijolos cerâmicos, textura branca e ladrilho hidráulico. Para não interferir no piso colorido, todo o mobiliário possui cor preta: estantes, mesas e armários são feitos em estrutura de metalon aparente e fechamento em MDF.
A iluminação também é discreta, com todas as peças de sobrepor e a maioria delas composta de spots fixados em trilhos eletrificados e aparentes.
Desde o início, o Lins priorizava a economia, a sustentabilidade e a manutenção das características regionais do projeto. Essas diretrizes impulsionaram o uso de materiais naturais e brutos, como concreto cru, tijolo cerâmico, ladrilho hidráulico, telha metálica etc., todos encontrados na região.
“Além disso, há uma busca incansável para a diminuição da temperatura no interior da edificação. Para isso foram utilizados materiais de grande inércia térmica, como o concreto, e protegidos por uma coberta de grandes beirais, impedindo que a luz do sol incida diretamente sobre a edificação”, diz George.
Essa decisão tem um viés sustentável, pois valoriza os serviços e produtos locais, contribuindo para o desenvolvimento do lugar em que está inserido.
A curiosidade fica por conta da plasticidade final do edifício que se destaca bastante das construções presentes no entorno. Mesmo utilizando materiais e espécies vegetais locais, o edifício assume a linguagem própria do escritório que busca constantemente uma arquitetura que respeita o local em que está inserida.
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