Texto: Naíza Ximenes
“Confrontar funcionalidade com plasticidade. Acho que esse é o resultado perfeito da arquitetura”, comenta José Ricardo Basiches, à frente do escritório Basiches Arquitetos Associados, ao falar sobre o projeto da Residência MC, em São Paulo.
Procurado por um casal proprietário de terreno de 4.746 metros quadrados, o arquiteto se viu diante de desafio: derrubar a estrutura antiga e projetar uma nova casa, com um programa extenso, mas sem reduzir a mancha arbórea de um local marcado por uma densa vegetação — um obstáculo que deveria ser considerado no projeto, na fundação, construção e logística de todo o processo.
Mas, segundo Basiches, o processo não foi de todo complexo. Ele conta que o casal de clientes já chegou com uma proposta muito bem detalhada, inclusive com algumas metragens pré-definidas. “Isso facilita muito o nosso trabalho. Nosso papel foi pegar todo esse programa, desenhar e desenvolver um projeto que se encaixasse nessa organização muito bem pré-estabelecida”, ele diz.
A solução foi desenhar uma morada que, nas palavras do arquiteto, se esparrama pelo terreno. Como a topografia era de aclive em metade do lote, a aposta foi em uma estrutura com dois volumes — um apoiado sobre o embasamento térreo e o outro apoiado sobre pilotis, na área mais alta. No ponto de encontro, um bloco se sobrepõe ao outro.
A divisão é simples: no bloco térreo, ficam as áreas sociais, de apoio e de lazer. É uma estrutura marcada pela integração com a área externa, como a piscina e o grande jardim (já que o projeto preservou 95% das árvores que já existiam ali). No bloco superior, fica a área íntima, com as suítes, uma biblioteca e uma varanda privativa.
Há duas entradas para a Residência MC: uma pela frente da casa, através da área social, e outra pelos fundos, através da área de lazer. A entrada frontal é marcada pelo paisagismo projetado por Alex Hanazaki, com árvores que dividem o espaço entre garagem e entrada para pedestres.
A passarela que dá acesso à casa dá uma prévia da sofisticação aplicada em todo o projeto. Isso porque, além da parede de placas de concreto, o caminho ganhou caixilharia em alumínio preto e luzes de LED embutidas no pergolado de concreto, criando pórticos iluminados em todo o corredor.
Já na entrada pelos fundos, o morador sobe alguns degraus que se abrem para uma grande área de lazer com espaço gourmet, rodeada pelas árvores naturais do terreno. À direita da entrada, fica o bloco de intersecção entre os volumes. Esse bloco é marcado por dois níveis: embaixo, há um espaço de descanso, com algumas mesas, balcões e a escada de azulejos pretos que leva à porção mais alta do terreno ao fundo. Em cima, sobre a laje, fica a varanda privativa do pavimento superior.
A piscina fica à esquerda dos degraus. Ela ganhou um deck em duas das laterais, que conecta a piscina ao espaço gourmet. Nele, há espreguiçadeiras que formam um pequeno solário. Ao seguir pelo caminho formado pelo deck, os moradores se deparam com as janelas de vidro dos outros ambientes que formam o bloco social.
No espaço gourmet, grandes sofás brancos com estruturas aparentes de madeira, assim como a mesa de centro, ficam no ambiente entre o jardim e a sala de estar. Esse local também é marcado pelo recuo da parede e pela cobertura de concreto aparente — uma estratégia que, segundo o arquiteto Ronaldo Shinohara, coautor do projeto, dá a sensação de conexão e unidade a mais de um ambiente.
A divisão entre a área dos sofás e a sala de estar é dada pelas grandes portas de vidro de correr, com caixilharia de alumínio preto, seguida por uma grande coluna de concreto. Na sala, a iluminação discreta casa com os sofás cinzas em formato de “T”, na mesma paleta de cores da parede, também de concreto.
“O projeto é espacialmente organizado dentro de dois eixos que convergem para a sala de estar, o núcleo do projeto e da casa. Nós colocamos todos os cômodos sociais em volta desse ambiente, ou seja, de um lado há um bloco de lazer, do outro um home theater, um salão de jogos...”, explica Shinohara.
Alguns dos espaços citados por ele são acessados pelo corredor criado na maior parede da sala de estar, que ganhou grandes portas brancas à esquerda e um lavabo separado por uma parede de vidro, à direita.
Novamente, o concreto se torna o destaque do ambiente — já que, além da parede com o material aparente, a pia do lavabo é formada por um grande bloco de pedra, na mesma cor do revestimento. O pendente avermelhado sobre a pia dá um toque de cor ao local. Há, ainda, uma grande claraboia que ilumina todo o espaço.
As portas brancas na outra lateral do corredor levam ao home theater, salão de jogos e brinquedoteca, respectivamente. Todos eles ganharam grandes panos de vidro entre a sala e a área externa, criando uma ampla vista para a área de lazer.
O home theater é marcado pelo sofá cinza, paredes pretas entre as folhas de vidro e outros toques de cor, como vermelho e laranja, na mobília. O salão de jogos ganhou mesa de sinuca, mesa de pebolim e mais sofás cinzas. Por fim, a biblioteca, na extremidade desse bloco, tem uma das paredes constituída pelo mesmo concreto aparente das outras paredes, e uma janela de vidro que integra interior e exterior.
Voltando à sala de estar, o morador se depara com a sala de jantar, na outra extremidade, marcada por uma grande mesa de madeira com 12 lugares. O revestimento na parede atrás dela é da mesma madeira da mesa, que se estende pela lateral, criando um outro corredor. Nesse ponto, há um destaque: o trabalho de marcenaria, também criado pelo escritório Basiches Arquitetos, que incluiu uma adega nessa extensão.
O corredor termina em outra área de recepção de convidados, integrada à área de lazer, com dois balcões e duas mesas. A primeira retangular, e a segunda, redonda. No fundo, está a escada que leva o morador ao patamar mais alto do terreno — de um lado, ela é utilizada para integrar os níveis do terreno, e, do outro, abriga um espelho d’água de frente para a copa da cozinha.
“O interessante é que a casa é toda em tons claros, muito minimalista nesse sentido, e seguindo toda uma paleta de cores. Mas o espelho d’água, não. A gente optou por um revestimento preto que ficou super bonito e deu um contaste muito legal, ou seja, elementos off white no geral e alguns elementos pretos pontuais”, comenta Basiches.
É esse espelho d’água que cria a impressão do segundo bloco ser flutuante, evidenciando o uso dos pilotis para formar a base do pavimento superior. A queda desses degraus termina na cozinha, um dos cômodos mais utilizados pelos proprietários, segundo a equipe de arquitetos. A decoração dela segue a mesma proposta: piso de porcelanato claro, paredes brancas, armários com fórmicas pretas e toques de cor através de elementos pontuais — nesse caso, as banquetas vermelhas.
Subindo as escadas de madeira com corrimão iluminado na sala de estar, está o pavimento privativo da casa. Nesse bloco, o programa era mais enxuto, o que permitiu maior linearidade na arquitetura. Assim, as escadas acabam em um grande corredor, com piso de madeira, que abriga as suítes e varanda.
Ao longo do corredor, estão as entradas para suítes e banheiros. No fundo, o grande destaque: a biblioteca. Ela pode ser integrada ou separada da suíte master por portas de madeira de correr. De um lado, fica a biblioteca e o home office, com uma mesa para trabalho, poltrona e pequeno sofá. Do outro, uma cama, uma poltrona e uma lareira suspensa pelo teto. Todo esse espaço ganhou panos de vidros nas três laterais, deixando a critério do proprietário a visibilidade desejada entre interior e exterior.
O banheiro da suíte master é outro destaque. Ele ganhou panos de vidro em uma parede com face para um espaço mais reservado, caixilharia preta, piso branco e uma pequena elevação, revestida de azulejos pretos, onde fica a banheira. Da biblioteca, há uma passarela que leva à varanda privativa, visível da área de lazer.
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