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Galeria Adriana Varejão

Galeria Adriana Varejão
Com programa incomum, a Galeria Adriana Varejão nasceu com autonomia para ser pura experiência estética. Imagens: Eduardo Eckenfelds
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Estética aprimorada

Texto: Gabrielle Victoriano

Em Brumadinho, estado de Minas Gerais, o Centro de Arte Contemporânea Inhotim é um museu com conceito arquitetônico diferenciado. Em vez de agregar todas as suas instalações em um único edifício, divide-se em diversas galerias espalhadas em um parque de aproximadamente 35 hectares. A Galeria Adriana Varejão, projetada pelo escritório Tacoa Arquitetos Associados, desde o início nasceu para acomodar dois trabalhos da artista adquiridos pelo museu e exibidos na fundação Cartier: a escultura Linda do Rosário e o políptico Celacanto Provoca Maremoto.

Livre do ônus que existe normalmente em um museu, ele não precisa dar conta da bilheteria, do auditório ou da lojinha. Nada disso faz parte do seu programa, o que nos concedeu certa autonomia para projetá-lo como pura experiência estética Rodrigo Cerviño Lopez

O projeto deu tão certo que durante o seu desenvolvimento, a artista integrou outras quatro peças no edifício, duas delas especialmente concebidas para ele. É um prédio em uma situação singular, pois em primeiro lugar foi pensado para um trabalho específico, e, em segundo, localiza-se no fundo do terreno, inserido no meio de um parque. “Livre do ônus que existe normalmente em um museu, ele não precisa dar conta da bilheteria, do auditório ou da lojinha. Nada disso faz parte do seu programa, o que nos concedeu certa autonomia para projetá-lo como pura experiência estética”, reflete Rodrigo Cerviño Lopez.

Arquitetura reconstitui topografia

A topografia original do terreno – um monte típico mineiro, parcialmente rodeado pela mata nativa da região, utilizado até então como depósito de containers – foi modificada para adaptar-se à construção. Um grande corte criou um plano horizontal necessário ao armazenamento. Nesse contexto, o projeto procurou recompor a superfície original do sítio, conta Rodrigo. “Para isso foi feito um arrimo e, sobre ele, o cubo inserido no fundo. Um elemento artificial, um bloco regular de concreto armado”.

Assim, a estrutura é composta por um muro de arrimo irregular que conquista o espaço do térreo e recebe as cargas do bloco em sua parte mais profunda, por meio de duas vigas. No meio o apoio vem das quatro colunas integradas ao muro. A construção também foi concebida como um percurso em espiral que conecta os dois níveis diferentes do parque, alternando os espaços.

Materiais inspiradores

Ao virar o edifício para a mata original, o arquiteto conseguiu trazer a presença do exterior para o interior da construção. Isso acontece a partir da reflexividade proporcionada pelo vidro que reveste a fachada e pelo espelho d’água localizado na entrada. Além de absorver o calor, criando um microclima mais agradável, refletir e duplicar o edifício – quando visto de fora – o espelho d'água guia o caminho da entrada e ainda mostra-se uma forte referência da arquitetura moderna brasileira.

A construção também foi concebida como um percurso em espiral que conecta os dois níveis diferentes do parque, alternando os espaços Foto: Vicente de Mello

Com basicamente concreto e vidro em toda sua estrutura e seus fechamentos, a Galeria Adriana Varejão concentra esses poucos elementos na construção de toda a obra. “O que é a estrutura é também o fechamento. Um reflexo e referência, também, às minhas raízes acadêmicas, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), e ao seu prédio projetado pelo Vilanova Artigas; e ao tempo em que estagiei no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha”, confessa o autor.

Percurso expositivo com design

Na construção pensada para oferecer um percurso expositivo, tudo começa a partir do térreo, no meio do espelho d’água, em uma passagem estreita. Afastando-se do edifício, ela segue pela pequena praça quadrada, na qual está uma das obras de Adriana Varejão, intitulada Panacea Phantastica. Trata-se de um banco revestido de azulejos com desenhos de plantas alucinógenas.

O percurso liga as duas cotas diferentes do museu. A vontade era trazer uma arquitetura com qualidade e um discurso sofisticado, que não existia. É uma proposta mais autoral, porque existe em Inhotim a interessante condição de poder fazer um trabalho específico, para um artista específico Rodrigo Cerviño Lopez

Ainda no térreo, dentro do morro, abaixo do bloco de concreto, as obras da artista novamente estão presentes: a escultura Linda do Rosário e a pintura O Colecionador figuram no ambiente. Seguindo a escada, no primeiro pavimento, esbarra-se com o políptico Celacanto provoca maremoto.

A rampa leva à cobertura sobre o bloco de concreto, onde outro banco revestido com azulejos – agora com desenhos de pássaros – expõe o trabalho Passarinhos, de Inhotim a Demini. Após esse passeio, o percurso acaba ao conduzir o pedestre novamente à ponte ou à rampa.

“O percurso liga as duas cotas diferentes do museu. A vontade era trazer uma arquitetura com qualidade e um discurso sofisticado, que não existia. É uma proposta mais autoral, porque existe em Inhotim a interessante condição de poder fazer um trabalho específico, para um artista específico”, revela Rodrigo Cerviño.

Sistema de ar condicionado

O prédio é todo condicionado. Normalmente, também por uma questão sustentável, o escritório prescinde do uso de condicionamento nos espaços projetados. Nesse caso era impossível porque os trabalhos exigiam controle de umidade e baixa variação de temperatura. “Não dá para variar muito a temperatura, uma vez que o trabalho sofre com isso”, expõe o arquiteto.

Para ter um condicionamento eficaz, há uma pele externa, que recebe insolação, e uma camada interna protegida do sol. Rodrigo Cerviño Lopez explica que quando foram realizados os primeiros estudos, os projetistas pediram uma porta rotatória. “Eles receavam que uma porta normal possibilitasse muita troca de ar, mas no final acabamos optando pelo acesso simples e não tivemos problemas.”

Escritório

  • Local: MG, Brasil
  • Início do projeto: 2004
  • Conclusão da obra: 2008
  • Área construída: 558 m²

Ficha Técnica

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