Em 1999, um concurso aberto a professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU-UnB) – e aos demais arquitetos que trabalhavam no campus Darcy Ribeiro – previa a construção do Centro Cultural da ADUnB. O objetivo era atender às demandas da sede administrativa, além de criar outras áreas, como auditório, restaurante e espaços/salas multiúso.
A proposta escolhida foi de Nonato Veloso, arquiteto-fundador do NV Estúdio Arquitetura e professor recentemente aposentado da UnB. Seu projeto adotou como conceitos norteadores a transparência e a permeabilidade, resultando num edifício transponível, sem barreiras.
Procuramos respeitar a escala e as preexistências do lugar Nonato VelosoO edifício do Centro Cultural da ADUnB (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília) está localizado numa região repleta de referências arquitetônicas, como a Faculdade de Educação (FE/UnB), a antiga Reitoria, o Auditório Dois Candangos e um edifício projetado por João Filgueiras Lima (Lelé). “Procuramos respeitar a escala e as preexistências do lugar”, afirma Veloso.
Como descreve o arquiteto, o prédio é formado por dois blocos independentes, que correspondem, assim, à área administrativa e ao auditório. Com um projeto executado em partes, o primeiro volume foi entregue em 2004 e o segundo, em 2016.
Os dois edifícios seguem dispostos paralelamente entre si e conectados a um pergolado coberto em vidro. Todas as paredes estão pintadas de branco. No volume onde aloja-se a área administrativa, essa solução acaba estabelecendo um forte contraste diante das vigas de concreto que marcam as coberturas. “São referências aos prédios vizinhos, como o de Serviços Gerais da própria UnB, que foi concebido por Oscar Niemeyer”, ressalta.
De acordo com Nonato, a previsão realizada em 2000 abrangia a construção de um pequeno auditório para cerca de 140 pessoas. Após 14 anos, uma nova demanda surgiu e o ambiente foi concluído com 520 lugares disponíveis, além de um amplo palco, foyer e espaços multiúsos destinado a eventos.
A entrada do auditório do Centro Cultural da ADUnB se destaca pelos brises em alumínio com pintura eletrostática, que ficam voltados para o leste. “Não quis utilizar elementos industrializados. Assim como estão, ajudam na questão da transparência, além de reforçar a horizontalidade do projeto”, explica o arquiteto.
Nonato conta que o pé-direito do ambiente precisava ser alto em função da caixa cênica. Foi necessário, então, acomodá-lo ao terreno para atender a essa demanda. Com isso, o foyer do auditório ficou distribuído em três níveis, muito bem integrados entre si através de rampas e escadas.
Lá dentro, espalham-se 20 fileiras, dispostas em diferentes alturas de patamar, exceto as sete primeiras que ocupam um piso horizontal. “Dessa forma, as cadeiras podem ser retiradas, permitindo um uso flexível, seja para a colocação de mesas ou até mesmo de orquestra, em apresentações nas quais a área do palco não possa ser diminuída”, explica Nonato. Ele completa dizendo que as divisórias das salas multiúso também têm esse caráter mais versátil, pois são removíveis e proporcionam a criação de outros layouts.
Para garantir a qualidade dos espetáculos no Centro Cultural da ADUnB, que vão desde palestras a orquestras sinfônicas, foi executado o isolamento acústico. Além das paredes duplas serem feitas em tijolos cerâmicos, elas receberam um painel frisado FRT acústico. “A aparência externa é muito parecida, mas internamente o material possui diversas perfurações para a absorção de diferentes frequências”, especifica Nonato.
Outro aspecto importante são os painéis de reforço sonoro que revestem o teto e a parte inicial do auditório. Eles permitem que o espectador da última fileira tenha a mesma qualidade acústica de quem se encontra logo à frente.
O auditório ainda possui cabine de controle de iluminação de palco e plateia, levando em consideração a dimerização necessária de acordo com o tipo de apresentação.
A arquiteta Paula Farage, da Quinta – Arquitetura, Design e Paisagismo, fala um pouco sobre o projeto de paisagismo criado para o Centro Cultural da ADUnB. “Buscamos adaptá-lo à paisagem existente”, ela introduz, referindo-se às áreas arborizadas, bem como aos tons terrosos e alaranjados da grama seca de Brasília durante o período de estiagem.
Foram propostos amplos canteiros de vegetação forrageira e maciços de arbustos, que contribuem para manter os tons de verde nas entradas e áreas nobres, além de destacar os planos minimalistas do conjunto arquitetônico.
As grandes árvores existentes em torno do complexo foram mantidas. Assim, há um bosque bastante frondoso na fachada noroeste, que ajuda a protegê-la do sol da tarde. Perto dali, um grande volume de arbustos reserva a entrada de serviço e passagem de equipamentos.
Em frente ao foyer (fachada sudeste), a sombra de uma enorme mangueira compõe uma praça coberta de pedrinhas onde foram dispostos bancos de concreto ao ar livre. “Além de um estar, essa área pode acomodar uma pequena plateia, em caso de apresentações menores e menos formais”, expõe Farage.
Ainda na fachada sudeste, foram espalhados ipês-amarelos nativos junto a um conjunto existente de outros ipês e árvores nativas do cerrado. As linhas que configuram a vegetação, além de valorizarem o centro cultural, encaminham o pedestre ao acesso.
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