A Residência em Samambaia, projetada pelo arquiteto Rodrigo Simão, se integra totalmente à paisagem, mistura interior e exterior e deixa que a natureza invada o espaço. Inserida na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, a construção leva os moradores a interagir e tirar máximo proveito da vista das belas montanhas da Maria Comprida, Cabeça de Cachorro e Morro do Teto.
A construção compõe elementos tecnológicos e ancestrais, e tira partido de estrutura metálica aparente, telhado curvo e vãos de 10,5 m dotados de janelas que ocupam 80% dessa metragem. “Ao abrir as janelas envidraçadas perdemos a noção de estar dentro da casa ou fora, no jardim. Mas esta é a ideia: a comunhão total com a natureza privilegiada, repleta de árvores nativas”, explica Simão.
Tanta transparência e permeabilidade serve para deixar a luz entrar generosamente, para abrir caminho para o vento e o verde, e, consequentemente, recarregar as energias da família. “Aqui convivemos com as crianças, fazemos ioga, sauna e tomamos banho de piscina. É o nosso santuário”, descreve.
A casa desfruta de um excelente conforto térmico, dispensando o uso do ar-condicionado e aquecimento. No inverno, o vidro segura o calor gerado durante o dia, deixando a casa quentinha. No verão, em Petrópolis, há uma amplitude térmica bem grande: faz calor durante o dia, mas é frio à noite, no entanto a propriedade permanece fresca no período diurno e aquecida no noturno. “Se estiver quente, basta abrir as portas de correr, permitindo a passagem do vento”, conta.
Outro fator contribui para a valorização da luz solar: a distribuição da planta no terreno. A sala é orientada para o sol nascente, e o telhado ergue-se na mesma direção, enquanto os quartos estão voltados para o norte. “Essa disposição deixa o sol percorrer a casa o dia inteiro, prevenindo os ambientes do mofo causado pela umidade própria do clima chuvoso e úmido – típico da montanha. Os raios solares deixam o ar mais saudável e são vitais para a saúde dentro de casa”.
O formato curvo do telhado também contribui para o conforto térmico da residência e promove uma convecção térmica. “Como o ar quente sobe, quando está calor, abrimos as portas. A solução forma um verdadeiro túnel de vento”, comenta o arquiteto.
Na circulação externa, a natureza foi cuidadosamente preservada. O acesso de carros e pedestres respeita as árvores nativas e pedras existentes, pois contorna esses elementos e mantém o microclima local. A chegada na casa se dá por um deck aberto de, aproximadamente, 70 m², integrado à sauna e à sala de estar. “É quase como estar a céu aberto, com vistas para todos os lados. Costumo dizer que não temos uma vista principal, e sim uma visada de pelo menos 180°”, reflete Rodrigo. Sem fronteira, o estar integra-se à sala de TV – por meio de grandes divisórias móveis – e à varanda, parecendo um solário.
A cozinha fica no centro e, a partir dela, é possível ver a sala e o jardim, enquanto prepara-se os alimentos ou lava-se a louça. Há também a sala de lareira convencional, a suíte máster, o quarto das crianças e o banheiro de tripla utilização, que serve à casa como lavabo, às visitas e aos filhos. No lugar da garagem, há um estúdio de música, um ateliê e uma brinquedoteca. Esses ambientes são, ao mesmo tempo, autônomos e integrados.
Duas piscinas – a menor, é aquecida por placas solares e tem hidromassagem – e a lavanderia encerram o programa.
Construída em um terreno de 2.760 m², com uma área de 330 m², a sólida morada está apoiada em uma fundação corrida de alvenaria de pedra, feita para durar. Trata-se de um sistema construtivo praticamente extinto, cuja mão de obra é difícil de encontrar. Ela oferece um contraponto com a estrutura metálica.
Imaginei algo cristalino, muito leve e delgado, mesclando a tecnologia à técnica milenar da alvenaria de pedra e ao uso múltiplo de materiais reaproveitados de demolições Rodrigo Simão“Imaginei algo cristalino, muito leve e delgado, mesclando a tecnologia à técnica milenar da alvenaria de pedra e ao uso múltiplo de materiais reaproveitados de demolições”, conta Rodrigo. Exemplo disso são as portas antigas de demolição combinadas à arquitetura fria do concreto e aço. O arquiteto revela que muitas dessas madeiras estão na terceira reutilização. “Eram janelas de outros edifícios e pisos, como o do Jornal de Petrópolis, que hoje reveste a sauna da morada.”
Durante a sua obra Simão experimentou sistemas construtivos não usuais como o concreto derramado na laje, responsável pelo efeito liso, como se fosse um piso fundido no local, mas sem a necessidade de impermeabilização, porque os poros são completamente fechados. Esta é uma solução construtiva bastante econômica, aplicada em quase toda a casa, porque elimina as etapas de contrapiso, argamassa, piso, rejunte e a mão de obra. No final, ele parece um cimento queimado, mas é um piso contínuo, sem juntas, de fácil manutenção e muito empregado na indústria. Apenas no interior dos boxes foi usado outro material no acabamento: as pastilhas.
Com a construção orientada para o sol nascente era fundamental ter um telhado alto que permitisse admirar do interior o nascer e o pôr do sol e até o curso da lua. “Por conta do pé-direito generoso e da cobertura curva, a gente vê o reflexo da lua dentro da casa. Isso foi uma surpresa, um bônus, não fazíamos ideia de que aconteceria”, confessa.
O telhado fino, com três centímetros de espessura, tem vários caimentos e confere leveza à construção. Para aplicar a telha asfáltica e manter o conjunto estrutural leve e delicado foi utilizado um sistema de manta aplicada a fogo com maçarico, diferente do tradicional. “Essa é uma das experiências realizadas na casa, cuja construção foi um verdadeiro laboratório. E funcionou muito bem. Ele parece voar. Se tivesse 20 centímetros, talvez o resultado não fosse o mesmo”, pondera Simão.
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