O Bloco Administrativo do Campus Avançado da Universidade Federal do Ceará agora é um marco na paisagem da cidade sertaneja de Crateús. Os escritórios Rede Arquitetos e Croquis Projetos, que o criaram em parceria, tinham como objetivo erguer um edifício funcional, mas que se destacasse no entorno e servisse tanto como pórtico de entrada no campus quanto como edifício administrativo. Além disso, ele precisava ser adequado ao clima local, que é tropical semiárido – portanto, quente e ensolarado durante a maior parte do tempo.
O projeto arquitetônico foi inserido em uma área livre, sem outras construções ao redor. Os arquitetos tiveram, assim, a oportunidade de fazer um edifício que é autorreferente, sem um contexto inicial com o qual ele precisasse dialogar.
A maior dificuldade enfrentada pelos arquitetos na criação do Bloco Administrativo foi a de aliar qualidade espacial e economia de recursos. Era preciso, ainda, não perder de vista a busca pelo máximo conforto térmico possível.
O formato do edifício surgiu como resposta às suas duas funções: um espaço aberto para acesso e convívio e um fechado para acomodar a parte administrativa do campus. O arquiteto Igor Ribeiro, do escritório Rede Arquitetos, explica a divisão: “Projetamos um caráter duplo para o edifício, com características diferentes. Um tem a parte mais aberta, com a recepção, e o outro consiste em uma área mais fechada para abrigar as salas administrativas do edifício”.
“Para isso, procuramos uma linguagem simples e direta, que respondesse às questões pragmáticas que uma obra pública exige, mas sem perder em qualidade espacial”, complementa Bruno Braga, também arquiteto do Rede Arquitetos.
O formato do edifício possui uma curvatura que separa o trecho edificado e fechado do outro aberto e fluido. O acesso, feito pelo trecho aberto, se dá sob um pé direito duplo, que abriga uma área espaçosa de encontro e de convívio.
“O desenho do projeto procura tirar partido da simplicidade e da rigidez, com linhas simples que exploram os volumes, os cheios e vazios”, descreve Braga.
A parte que acomoda o programa administrativo se apresenta como um volume enigmático, pois quase não se vê o que acontece em seu interior. Esse efeito é resultado do uso da esquadria de vidro espelhado na entrada e da pele de cobogós da fachada posterior, ao norte, que protegem da insolação direta. Já a fachada frontal, ao sul, é opaca e tem iluminação zenital, o que colabora para ocultar esse setor.
“Os elementos construtivos que usamos reforçam essa característica mais camuflada, mas, ao longo do dia, conforme o sol vai se pondo, o prédio vai se abrindo e, de repente, o bloco ganha outro estilo. À noite, ele se abre com a iluminação artificial, ganhando, dessa forma, dois aspectos diferentes em um mesmo projeto”, observa Braga. Ribeiro concorda e comenta, ainda: “À noite, o céu da cidade é lindo, o que também transforma o edifício”.
No interior do projeto, é a recepção – que conta com pé direito duplo – que distribui os fluxos dos dois pavimentos. No andar térreo, estão localizadas as salas da diretoria e da secretaria, além dos serviços e um conjunto de banheiros e vestiários
No andar de cima, ficam as coordenações. Lá os ambientes são conectados por um corredor, que deixa de ser apenas um espaço de circulação para funcionar também como área de estar e de encontro.
Os arquitetos desenvolveram a obra voltada para o nascer do sol. Assim, o uso de pergolados contribui para a alternância de elementos cheios e vazios, que recebem a incidência da luz de forma menos agressiva.
A segunda pele de cobogó também filtra a luz solar e ajuda em outra questão: a instituição tem a necessidade de passar por mudanças constantemente por conta dos cursos, e esse “truque” facilita as reformas.
De um lado do edifício, está o jardim que recebe a luz desenhada por um conjunto de pergolados e, do outro, a paisagem e o pôr do sol são refletidos na esquadria de vidro que dá acesso à parte mais fechada do edifício.
As texturas nas cores branca e preta predominam nas fachadas do Bloco Administrativo e realçam o aspecto volumétrico do projeto, que, como ressaltou o arquiteto, tira proveito da entrada de luz natural e das sombras – estas muito bem-vindas no calor de Cratéus. O método também contribui para a privacidade e para possíveis alterações futuras.
“Mais do que adotar o uso de diferentes materiais, nós trabalhamos com jogos de luz e sombra, aproveitando a forte insolação da cidade. E o contraponto dos acabamentos em cores claras e escuras ressalta esse artifício”, conclui Braga.
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