O Parque Tecnológico Itaipu, localizado dentro dos limites da Usina Hidrelétrica de Itaipu e que incorpora em seu espaço físico os antigos alojamentos dos trabalhadores que construíram a barragem, ganha nova configuração à medida que passa a abrigar a nova Biblioteca Paulo Freire, para acomodar o acervo das instituições de ensino superior que fazem parte do complexo.
Basicamente, cria-se uma área suficiente e em condições adequadas para abrigar o acervo de todas as instituições do parque. Um programa com ambientes específicos para catalogação e restauro de livros, boa quantidade de salas para leitura e estudos, área de convívio e também um pequeno auditório.
Por trás de toda essa funcionalidade, existe um projeto arquitetônico que visa maximizar o aproveitamento dos espaços, a flexibilização e uma posição geográfica favorável que permite à biblioteca ultrapassar seu espaço físico.
Como conta o arquiteto Leonardo Poletti, um dos autores do projeto, “a ideia é que o espaço da biblioteca não se encerre nos seus limites físicos, mas que permita o acesso aos usuários, que poderão se apropriar do espaço e entorno de diferentes formas. Assim, a cobertura do prédio e os jardins internos – incluindo aqueles localizados no interior das ruínas preservadas – transformam-se em locais de estudo e ponto de encontro para discussões”.
Ele explica que a planta livre da área do acervo favorece uma disposição multifuncional, perfeita para atender a atual demanda da biblioteca.
“Ao mesmo tempo, essa condicionante prevê o comportamento da biblioteca em futuro próximo, onde ferramentas digitais substituem com frequência cada vez maior os meios físicos. Além disso, possibilita que o espaço não seja reduzido a um ‘estoque de livros’, mas transforme-se em um ambiente que pode ser utilizado como local de exposição, solenidade e outras atividades”.
O arquiteto conta que a edificação foi concebida a partir de uma modulação pré-estabelecida pelo tamanho do antigo alojamento mantido. “A partir dessas dimensões, a grelha compositiva definiu a locação dos pilares, a grelha da cobertura e também os caixilhos das esquadrias”.
Há a predominância da estrutura de Madeira Laminada Colada (MLC), uma tecnologia presente na estrutura da cobertura, nos pisos, nos deques externos (e da cobertura) e brises das janelas da cobertura. O vidro harmoniza com esses elementos ao figurar em esquadrias, aberturas zenitais, cobertura do pergolado sobre a escada e corredores.
A estrutura é complementada com o concreto, que forma pilares e vigas de sustentação, além das lajes de cobertura da área técnica e das salas de estudo – já a base foi executada com um sistema de vigota e tavela (com peças de isopor que aumentam o isolamento térmico).
O conjunto sustentável do projeto é marcante desde as peças de madeira reflorestada e certificada (pinus), passando pelo pavimento da área externa em saibro, produzido no próprio canteiro a partir de sobras de blocos cerâmicos triturados, até a utilização de placas de aquecimento solar, aberturas zenitais e um espelho d’água, que contribuem para a eficiência energética.
Há, também, lajes impermeabilizadas com brita clara que absorve a incidência solar, grandes janelas e brises que possibilitam a ventilação cruzada.
O viés histórico do lugar está intrínseco no projeto, uma vez que foi preservada parte da ruína do antigo bloco, lugar utilizado como alojamento para os trabalhadores que construíram a barragem de Itaipu. Assim, cria-se um programa peculiar que contrasta o novo e o antigo, entre a memória da hidrelétrica e a renovação social / econômica / física.
“Pelo fato das ruínas preservadas não serem um objeto arquitetônico representativo, sua manutenção é muito mais simbólica e conceitual, o que demandou um discurso bastante incisivo junto a população do parque para que fosse levado adiante”, destaca o arquiteto.
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